quarta-feira, 14 de março de 2018

Racismo pelo correio


Leonne Gabriel, estudante de jornalismo da PUC-RJ, foi personagem de uma matéria do jornal O Globo sobre preconceito na universidade; dias depois recebeu uma correspondência em sala de aula. Dentro do envelope havia a página do jornal em que aparece com ofensas racistas. As informações são da Revista Forum e do facebook do estudante:

Já viram ataque racista por carta? saiba o que #RonaldoRacista escreveu para mim.

Para um universitário todo começo de período é desafiador, mas nunca imaginei que receberia um ataque racista em forma de carta. Não é só na FGV que alunos negros são alvo. Estava em sala de aula e de repente uma funcionária da PUC-Rio bate na porta e chama meu nome. Ela me entregou uma carta que chegou por Correios na instituição. Muito animado acreditei que poderia ser algo bom! Abri a carta e achei estranho ter uma folha de jornal. Lembrei da entrevista que dei recentemente para O Globo e imaginei que poderia ser uma repercussão positiva. Afinal, não existem muitos negros que fazem jornalismo na PUC.

Quando desdobrei o jornal recebi de peito aberto os golpes racistas. Fiquei em estado de choque e atordoado. Li e reli sem acreditar as seguintes frases: "Porra! cara, com um cabelo desses queria o que?" e como se não bastasse mais uma "Ser preto nenhum problema, mas esse cabelo? PQP!". A carta está assinada por um tal " Ronaldo Antunes" com endereço de rua Baronesa 162, Praça Seca RJ, e foi postada cinco dias depois da publicação da minha entrevista no jornal O Globo.

O ataque racista por uma carta mostra ideias velhas que são muito atuais. Um museu de novidades! 130 anos depois da abolição da escravidão o corpo negro ainda é alvo de pedradas! #RonaldoRacista, qual é o problema do meu black? Pessoas como você existem aos montes. Já tive um supervisor que quando descobriu que eu morava na favela perguntou se eu escondia drogas no meu cabelo. Não quero ser taxado como perfil suspeito e nem ser apontado como maconheiro por assumir a minha identidade negra. Acredito em uma realidade em que a cor de pele e a fibra do cabelo não definam o potencial do ser humano. O #RonaldoRacista não é só um problema meu e sim da sociedade brasileira.