terça-feira, 7 de novembro de 2017

Igreja Universal realiza eventos dentro de colégios com aval da prefeitura

A fé evangélica entrou nas escolas do Rio. Dois colégios municipais, pelo menos, receberam, recentemente, eventos da Igreja Universal do Reino de Deus, denominação religiosa da qual o prefeito Marcelo Crivella é bispo licenciado. O Ciep Gustavo Capanema, na Maré, teve, em setembro, uma ação social em que o grupo de Evangelismo da Catedral de Del Castilho oferecia assistência médica, jurídica e distribuía cestas básicas e quentinhas, além de fazer atendimento religioso. No último domingo, como foi divulgado nesta segunda-feira pela coluna de Ancelmo Gois, houve a Grande Ação Social, na Escola Municipal Joaquim Abilio Borges, no Humaitá.

O evento na escola da Zona Sul teve ainda dois projetos da Igreja Universal voltado para mulheres: palestras para mães solteiras e para mulheres que sofreram agressões. O primeiro, chamado T-Amar, foi, segundo o site oficial do programa, “desenvolvido para oferecer apoio, conscientização e, acima de tudo, apresentar a fé que transforma, auxiliando a criar filhos na atualidade”. Já o segundo é o projeto Raabe. Os dois são oferecidos por um braço da Igreja Universal chamado Godllywood, criado para “levar as jovens a se tornarem mulheres exemplares” e avessas “às influências e imposições Hollywoodianas”, segundo o portal da instituição na internet. Tanto o projeto T-Amar, quanto o Raabe realizam encontros semanais e palestras em todo o país.

A Secretaria municipal de Educação informou que qualquer instituição — religiosa ou não — pode pedir para utilizar os prédios de escolas em horários ociosos. Uma resolução de 24 de outubro deste ano do secretário municipal de Educação, Cesar Benjamin, regula o uso do espaço escolar. Nela, fica autorizada a cessão de prédios das unidades que não estejam funcionando com atividades do calendário escolar. Basta ter autorização da direção da unidade, que deve informar a Coordenadoria Regional de Educação. São permitidos eventos gratuitos, com atividades educacionais, culturais ou de “interesse da comunidade”. Festas particulares são proibidas. A instituição autorizada fica responsável por eventuais danos ao prédio.

A SME diz que a Igreja Universal não é a única a realizar eventos sociais em escolas da prefeitura. Segundo a pasta, as igrejas Metodista Ortodoxa, de Madureira, e a Primeira Igreja Batista, de Jardim Novo Realengo, utilizaram, em 15 de julho, o espaço do Ciep Almir Bonfim de Andrade, em Vila Valqueire. A reportagem descobriu que a Igreja Batista da Pavuna levou serviços para o Ciep Anton Makarenko, de Costa Barros. Procurada, a SME informou que não teve tempo para verificar se houve eventos católicos ou de outras religiões. A entrada de instituições religiosas em escolas públicas é criticada pela pesquisadora de laicidade e professora da USP Roseli Fischmann.

— O prédio público não pode servir a grupos religiosos, especialmente se forem ligados ao prefeito. Tudo bem que ajuda as pessoas, mas por que o evento não pode ser feito na própria igreja? — questiona.


Jornal O Globo (Rio)